A criança é responsável pelos próprios atos

A criança é responsável pelos próprios atos

Rafaela Polo, mãe e educadora.

Quando meu primeiro filho nasceu eu senti um amor sem precedentes, o maior que até então havia sentido – vocês pais sabem muito bem do que estou falando –; e comecei a perceber que aquilo que eu pensava quando estava grávida era uma via de mão única. Faltou pensar em como eu seria, como agiria…

Comecei então a perceber que eu precisava me preparar para ser a mãe que meu filho precisa, e não esperar que ele seja o filho que eu queria que ele fosse. O pensador González Pecotche ensina que, além de necessário, é uma obrigação moral e racional contribuir para que germinem nos fecundos campos mentais da criança ótimas sementes. Ou seja, eu preciso ter a compreensão do que meu filho necessita e me capacitar para oferecer-lhe; ir atrás dos conhecimentos necessários, caso não os tenha.

Sou mãe de dois filhos, um de sete e o outro de quatro anos. É gratificante e útil relembrar algumas vivências que tive com eles e como o conhecimento me ajudou a vivê-las de forma feliz.

O filho mais velho, quando começou a ter tarefas escolares, demonstrou-se animado por fazê-las. As de escrever, pelo menos. Mas as de pintar era um sofrimento! Não queria fazê-las e as entregava de qualquer jeito mesmo.

Nesse momento, lembrei-me que Pecotche – criador da Pedagogia Logosófica – ensina aos pais a recordarem com frequência a criança que foram, para que possam se colocar no lugar do filho e encontrar a melhor forma de lidar com uma situação. Para mim, pintar também não é uma necessidade. Escrever é mais importante. Mas por trás da pintura há uma série de fatores positivos que sustentam a inclusão dessa disciplina no currículo escolar; e eu, como mãe, não posso ir contra algo que está além dos meus conhecimentos pedagógicos.

Recordei-me de que, quando criança, sempre gostava de ter as tarefas bem-feitas, de sentir a sensação de tê-las realizado com gosto. O esforço poderia até ser grande, mas o resultado final compensava, pois mostrava uma realização pessoal, só minha, da minha responsabilidade.

Além disso, tive em mente também algo que aprendi com os ensinamentos logosóficos: somente o próprio indivíduo pode ser responsabilizado por suas atuações, sua conduta. Um erro que meu filho cometa pode significar uma falta de orientação minha, mas continua sendo um erro dele, que irá pesar sobre ele.

Trouxe para meu filho esses dois aspectos, enfatizando que eu gostava muito de ter minhas tarefas bem-feitas, pois isso significava que eu havia compreendido o que era para fazer e que, além de mim, as professoras também ficavam felizes. E disse-lhe que a tarefa malfeita seria responsabilidade dele, e não minha! No meu currículo só haviam tarefas bem-feitas. Que tipo de tarefas ele gostaria de ter no seu currículo? Como ele realmente gostaria de entregar as tarefas para a prô?

Deu certo. Ele começou a pintar; não com o maior gosto do mundo, pois se trata de um processo, requer adaptação. Hoje os seus desafios são outros e mais difíceis, ele tem que escrever melhor, usar a criatividade, a inteligência… Tudo isso demanda esforço. Mas o pensamento por trás de todas essas atividades continua sendo o mesmo: o de ser ele mesmo o responsável por seus atos.

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