
O valor de uma explicação
Eu observava aquela mãe que seguia com os olhos sua criança bem novinha, brincando livre e confiante naquele jardim onde normalmente havia lagartas. Num dado momento, não podendo mais se conter, veio a advertência, num tom acima do habitual:
- Filhinha, cuidado com as lagartas!
Imediatamente, a criança correu na direção da mãe, estampando na fisionomia um grande susto.
O episódio me fez recordar uma das diretrizes que a Pedagogia Logosófica apresenta a quem se dispõe a educar-se para, então, poder educar outro ser: um filho, um aluno... Refere-se à atenção que se deve dar às causas – muitas vezes em nós – das nossas atuações docentes e aos efeitos que elas produzem.
Por que a forma de atuar daquela mãe amedrontou a filha?
Numa análise ainda que superficial do fato, percebe-se que não foi oferecido à mente daquela criança nenhum elemento de defesa. Apenas houve o alerta para um perigo: a lagarta, que ela talvez pouco conhecesse. A sugestão do medo precipitou-se e sobrepôs-se ao gesto educativo que apontaria para um cuidado que esclareceria uma situação, que ensinaria uma defesa.
Deve-se ter sempre em conta que a mente da criança é muito sensível. Nela, as imagens que o adulto oferece fixam-se com extrema facilidade. Oferecer às crianças diretrizes e elementos para a que as faculdades da inteligência funcionem em harmonia, sem agitação ou abalo, sem sugestões negativas, é uma tarefa desafiadora que se apresenta para os adultos.
Diante de qualquer oportunidade ou situação, seja num jardim, num supermercado ou numa reunião de família, não se pode negar à criança uma explicação; explicação bem dada, sem muitos rodeios. Os conhecimentos que a criança ouve e aprende vão formando sua razão, possibilitando-lhe pensar mais e melhor.
Uma das tantas formas de explicar é conversar com a criança sobre fatos semelhantes ao que ela esteja vivendo, ou que tenha vivido recentemente, utilizando elementos que facilitem seu entendimento.
Outra forma é ajuda-la a estabelecer relações entre os acontecimentos, levando-a a perceber que o que se faz agora terá alguma consequência no futuro, mesmo que este futuro que ela consiga enxergar seja daí a uns poucos minutos.
Uma técnica muito eficaz é levar o delicado mecanismo mental da criança a movimentar-se, por meio da análise do que ela vive, e fazer isso com imagens claras e acessíveis, com estímulos sempre positivos.
No episódio das lagartas do jardim, entre outros cuidados, seria o caso de levar a criança a recordar-se de outras lagartas que, porventura, ela já tivesse encontrado e dizer-lhe que existem alguns animais que podem nos machucar quando nos encostamos neles... Fazer isso sem alarde, sem a sugestão do medo, sem o tom da violência no falar e no agir.
As crianças gostam de explicações, diríamos mesmo que elas clamam por isso! Um pai, uma mãe, um (a) professor (a) atento aos maravilhosos resultados que ações simples como a descrita podem promover nas crianças descobre que a explicação atenua temores, defende contra excessos negativos da imaginação, ilumina inteligências, aquece e aproxima corações...
Uma boa explicação temperada com o amor da mamãe, do papai, do(a) professor(a), amplia o quadro da verdade que a criança já pode perceber e estimula nela a formosa aventura do querer saber – saber a verdade das coisas, das lagartas, das tantas belezas da vida... e também dos perigos ocultos entre as folhas de cada dia na vida de todos nós!
Por Graciela Ranieri de Castro Ribeiro
*Para ajudar com as explicações sugerimos os livros “Por que os aviões voam” e “Um bicho diferente”
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